Julgamento de Bolsonaro coloca à prova a imagem de imparcialidade do STF

E ainda sobre o Supremo Tribunal Federal, gerou polêmica nacional a decisão da Corte que manteve os ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin no julgamento da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Uma ótima pauta para Dr. Pêta tratar sobre o legal, o moral e os limites da imparcialidade do STF.

Pois bem… a Constituição é clara: ninguém pode ser juiz de um processo em que tenha interesse direto ou indireto. A imparcialidade é um princípio fundamental. No entanto, a jurisprudência do próprio Supremo exige que qualquer pedido de afastamento de um ministro por suspeição ou impedimento seja sustentado por provas concretas de parcialidade, e não por opiniões passadas, relações políticas ou brigas públicas.

É exatamente aí que o presente caso se complica. O ministro Flávio Dino, por exemplo, fez duríssimas críticas a Jair Bolsonaro quando ainda era governador do Maranhão. Em determinado momento, chegou a chamá-lo de “diabo”, uma declaração que, ainda que política, carrega uma carga emocional difícil de ignorar. Cristiano Zanin foi advogado pessoal de Lula, principal adversário político de Bolsonaro; e Alexandre de Moraes já foi alvo direto de ataques e ameaças de aliados do ex-presidente.

Diante disso, ainda que não haja ilegalidade na permanência dos três ministros no julgamento — e não há —, é plausível perguntar: até que ponto é saudável para o sistema de justiça que ministros com esse histórico permaneçam na linha de frente de um caso tão sensível? O STF tem razão quando afirma que a atuação anterior de um juiz, por si só, não o torna parcial. Mas também é verdade que a imparcialidade não é apenas um dever técnico — ela é, sobretudo, um símbolo público. E símbolos importam. Não basta ser imparcial; é preciso parecer imparcial.

A Justiça, para ser respeitada, precisa se comunicar de forma clara e convincente com a sociedade. Quando ministros que já foram adversários declarados do réu permanecem no julgamento, mesmo que legalmente amparados, o efeito é o oposto: gera desconfiança e alimenta a narrativa de que o processo já estaria decidido antes mesmo de começar. E, num país tão polarizado, essa percepção é fatal para o descrédito nas instituições.

Longe de ser jurídica, a questão aqui é institucional. Os ministros poderiam, por prudência, ter optado pelo afastamento voluntário — não porque a lei exige, mas por bom senso. Seria um recuo importante, não diante da lei, mas em nome da legitimidade. O julgamento de Bolsonaro será histórico, qualquer que seja o resultado, mas ficará, inevitavelmente, marcado por essa dúvida: mesmo que tenha seguido todos os ritos legais, terá seguido também os da Justiça percebida como justa?

  • Avatar photo

    Muriçoca Chipada

    A redatora que pica, mas não mata, trazendo fofocas quentes e textos afiados com um toque de humor satírico. Com asas curtas, antenas ligadas e um chip misterioso, ela transforma o cotidiano local em pura diversão!

    Notícias Relacionadas

    Indefinição no STF prolonga impasse e mantém tudo como está

    Indefinição mantém Iracema no cargo!!! Enquanto o julgamento não termina, o efeito prático da suspensão da nova regra é a manutenção no cargo, por tempo indeterminado, da atual presidente do…

    Continuar lendo

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Mistérios

    Escala apertada e MP de olho: saúde municipal no limite

    Escala apertada e MP de olho: saúde municipal no limite

    AS MANCHETES DO DIA – 26.03

    AS MANCHETES DO DIA – 26.03

    Influencer esbanja no Carnaval e agora some das redes com “deprê” financeira

    Influencer esbanja no Carnaval e agora some das redes com “deprê” financeira

    Lobista da Baixada enfrenta portas fechadas na Segurança Pública

    Lobista da Baixada enfrenta portas fechadas na Segurança Pública

    Vereador ‘flertador’ some do mapa depois de flagra inesperado

    Vereador ‘flertador’ some do mapa depois de flagra inesperado

    Folião ‘descompromissado’ joga a aliança no meio da Litorânea

    Folião ‘descompromissado’ joga a aliança no meio da Litorânea